DOMINGO DE RAMOS
Este evangelho deixa claro a intenção de Lucas que é colocar os acontecimentos da Paixão de Cristo no campo da misericórdia e do amor. A ideia do evangelista perpassa o caminho de que o Pai ama o Filho, logo ama os homens. Enquanto os outros evangelistas buscam enfatizar a culpa dos Judeus, o evangelista não coloca esta culpa em seu escrito, pois se o sangue de Cristo lava a todos da culpa, não lavaria ele também os Judeus? Significativo é lembrar que Lucas não ressalta muita coisa nesta passagem como os outros evangelistas, como por exemplo o fato dos discípulos terem dormido, a fuga dos discípulos do Getsêmani (Mt 25,56), de Pedro ir contra o servo do sumo sacerdote, até os inimigos de Jesus são apresentados com menos dureza, a razão disto é que Lucas não quer ver Jesus isolado no Calvário.
O tema do perdão corta este texto do início ao fim, Lucas inocenta a todos. Vejamos: Pilatos no evangelho de Lucas aparece inocentado por três vezes, o servo do sumo sacerdote tem a orelha curada logo após ter sido cortada, Pedro é levado ao arrependimento pelo olhar de Cristo. Enquanto Marcos e Mateus colocam palavra de desespero na boca do Crucificado, Lucas por sua vez coloca palavras de perdão em intenção a todos os Judeus, não podemos esquecer que Lucas apresenta o Senhor perdoando o ladrão, tudo isto para mostrar que o segredo deste perdão nasceu da comunhão que Cristo tem com seu Pai. O desvelamento feito por Lucas nesta relação de Pai e Filho tem como objetivo revelar a intimidade existente entre Deus e seu Filho. Lucas colocou várias orações nos lábios de Jesus e não foi simplesmente por colocar, mas para dar um tom mais pessoal à intimidade entre o Pai e o Filho. Ele ainda destaca duas coisas muito significativas: a solicitude de Deus para com Cristo quando o consola na sua agonia (Lc 22,43), e o título "Filho de Deus", que é diferente do título que Marcos e Mateus Lhe concede, para Lucas o título do Senhor é divino, para os outros dois, Messiânico. Para Lucas Cristo não morreu por causa de sua afronta ao templo, mas por ter confessado sua divindade.
Joacir A. Antunes