Em um mundo que se move em alta velocidade, existem gestos que ecoam pela eternidade, carregados de um significado que o tempo não consegue apagar. Um desses momentos, de fato, é a unção de Jesus com um preciosíssimo óleo de nardo puro. Este ato de amor extremo, frequentemente associado a Maria Madalena, nos convida a uma profunda reflexão sobre a Crisma, conectando-nos diretamente a um dos sacramentos mais importantes da vida cristã.
Prepare o seu coração, pois vamos mergulhar juntos nas passagens bíblicas. Com isso, desvendaremos o simbolismo deste gesto e traçaremos um paralelo luminoso com o Sacramento da Confirmação, atualizando o significado do nardo para os dias de hoje e despertando um novo olhar sobre o compromisso com a fé em Jesus.
O Derramamento em Betânia: Um Amor que Não Mediu o Preço
Para compreendermos a magnitude deste ato, precisamos, antes de mais nada, voltar nossos olhos para a pequena aldeia de Betânia, um lugar que Jesus amava. O Evangelho de João (12, 1-8) narra a cena com uma riqueza de detalhes que toca a alma.
“Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia […] Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro, caríssimo, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. A casa inteira encheu-se do cheiro do perfume.”
Vamos nos deter um instante nesta cena. O óleo de nardo puro era um artigo de luxo, importado das montanhas do Himalaia. Seu valor, surpreendentemente, equivalia ao salário de um ano inteiro de trabalho. Maria Madalena, portanto, não oferece a Jesus uma gota, mas sim um tesouro. Ao quebrar o vaso de alabastro, ela quebra também qualquer reserva ou cálculo. Aquele gesto era a expressão de um coração transbordante de gratidão e amor, uma profundidade de entrega que o Sacramento da Crisma busca despertar em cada fiel.
Os Significados Profundos da Unção:
- Adoração e Humildade: Ao se prostrar aos pés de Jesus e enxugá-los com seus próprios cabelos – a glória de uma mulher naquela cultura – Maria Madalena assume uma postura de total rendição. Ela reconhece a divindade de Cristo de uma forma que poucos fizeram.
- Um Amor Extravagante: A crítica de Judas Iscariotes expõe a diferença entre a lógica do mundo e a lógica do Reino. O amor por Jesus, em outras palavras, não pode ser medido pela régua da utilidade. É um amor que se doa por inteiro.
- Anúncio Profético: O próprio Jesus revela o significado mais profundo do gesto: “Deixe-a em paz! Que ela o guarde para o dia da minha sepultura” (João 12, 7). Consequentemente, aquele perfume se tornou a preparação para o sacrifício do Cordeiro de Deus.
Aquele perfume, como resultado, não ficou restrito à casa em Betânia; ele impregnou a história e continua a nos inspirar a um amor que não teme o “desperdício”.
A Unção que Confirma: O Óleo da Crisma e a Força do Espírito Santo
Agora, avancemos no tempo. Deixemos a poeira das estradas da Galileia e entremos na solenidade de uma celebração que marca a vida de tantos fiéis: o Sacramento da Crisma. A conexão pode não parecer óbvia à primeira vista, mas, sem dúvida, ela é profundamente transformadora.
A Igreja nos ensina que a Crisma, ou Sacramento da Confirmação, completa a graça do Batismo. Se no Batismo nascemos para a vida em Cristo, na Crisma o Espírito Santo nos fortalece para testemunharmos essa fé com coragem e maturidade. A referência bíblica fundamental para este sacramento encontra-se nos Atos dos Apóstolos (Atos 8, 14-17), quando Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos para que eles recebessem o Espírito Santo.
O rito essencial da Crisma é a unção com o óleo do Crisma, consagrado pelo bispo. Ao ungir a fronte do crismando, o ministro traça o sinal da cruz e diz: “Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo”. Essa unção sela o fiel, tornando o significado da Crisma uma marca visível de uma graça invisível.
O Nardo e o Óleo da Crisma: Um Perfume que Une
Aqui, a fragrância do nardo de Maria Madalena se encontra com o aroma sagrado do óleo do Crisma. Dessa maneira, os significados se entrelaçam de forma maravilhosa:
- De um Vaso Quebrado a um Coração Aberto: Assim como Maria Madalena quebrou o vaso de alabastro, a Crisma nos chama a “quebrar” nosso coração de pedra, nossas resistências e medos. Isso permite que o “bom perfume de Cristo” (2 Coríntios 2, 15) seja derramado em nossa vida e, através de nós, no mundo.
- A Marca da Pertença: A unção com o óleo do Crisma imprime na alma um “selo” indelével, uma marca espiritual. O selo da Crisma nos marca como propriedade de Cristo, chamados a participar de Sua missão.
- Fortalecidos para a Missão: O óleo de nardo foi um gesto que preparou Jesus para o Seu sacrifício. Similarmente, o óleo da Crisma nos fortalece para a nossa própria “missão”: um sacrifício vivo de amor no dia a dia. Recebemos os dons do Espírito Santo para sermos testemunhas corajosas do Evangelho.
- Exalando o Bom Perfume de Cristo: O perfume de nardo encheu toda a casa. Do mesmo modo, o cristão crismado deve exalar o “bom perfume de Cristo” onde quer que vá, tornando o mundo um lugar mais fraterno e cheio de esperança.
Um Convite a Viver uma Fé que Perfuma o Mundo
A jornada que começamos nos pés de Jesus, com o perfume de nardo derramado por Maria Madalena, nos conduz, finalmente, ao coração da nossa própria vocação cristã, selada no Sacramento da Crisma. Aquele gesto de amor extremo não foi apenas um evento do passado, mas é, sobretudo, um convite perene a cada um de nós.
Que possamos nos inspirar na coragem e na entrega de Maria Madalena. Além disso, que não tenhamos medo de “desperdiçar” nossa vida por amor a Jesus, oferecendo a Ele o nosso melhor: nossos talentos, nosso tempo e nosso coração.
Pois você que se prepara para a Crisma, ou que já a recebeu, deve se lembrar: você foi ungido. Você recebeu o selo do mesmo Espírito que ungiu Jesus. Você tem o chamado para ser o perfume de Cristo no mundo de hoje. Que a sua vida, a cada dia, possa encher a “casa” do mundo com a fragrância de um amor que não mede esforços, de uma fé que transforma e de uma esperança que nunca se apaga. Siga os caminhos de Jesus e permita que o Seu perfume se espalhe através de você.